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terça-feira, fevereiro 11, 2020
quinta-feira, junho 02, 2011
cheia no curoca
pedes-me um sonho
e eu dou-te um rio
onde o mar se comprime e desagua:
eram as águas sugadas pelo areal ouguento,
o seu uno amante penetrou-lhe o veio
e sublimaram-se.
pedes-me um quadro
e eu dou-te um leito
inchado pela gravidez das águas:
masabuluka era a menha misturada pelo amor,
mar e rio formaram um oceano novo
e descansaram.
e um rosado manto tingiu-lhes o rosto
quando os flamingos vieram em bando
poisar nas margens dos seus braços.
admário costa lindo, “Solaris, o oitavo mar”
terça-feira, julho 03, 2007
O Voo de Um Amigo
Homenagem ao Meu Bom Amigo
que depois de 30 anos, viveu comigo as emoções do regresso á nossa Terra Natal. Moçâmedes
que depois de 30 anos, viveu comigo as emoções do regresso á nossa Terra Natal. Moçâmedes
O VOO DE UM AMIGO
- Reinaldo Bento -
Ganhaste asas e partiste
Como o voo de um falcão
O infinito foi a tua meta
Ao encontro de outro Irmão
Contigo levaste o cântico,
A música, o grito da bondade,
De ti, tu levaste o melhor,
Ficou entre nós a saudade
Como raio de luz tu partiste
Desafiando os Céus, afinal…
Fica o choro de quem te ama
Dessa viagem tão dura e brutal
E a luz que brilha lá do alto,
Aquela duma brancura invulgar
É a estrela que chegou ao céu
E num murmúrio se ouve o cantar
Subiste para bem perto de Deus
Levando nas asas a esperança,
D’encontrar noutro reino distante
A Paz que finalmente se alcança.
Paz eterna.
ManelaLopes
14/06/2007
ManelaLopes
14/06/2007
sábado, outubro 07, 2006
Contemplação
CONTEMPLAÇÃO
Ela ali está, abstracta e solitária,
Sentada sobre a areia
E de olhos postos no além…
Mulher de carne, em gestos de sereia,
Com os olhos a boiar
Nas ondas mansas do mar,
Com o mar a baloiçar
Nas ondas do seu olhar…
Que pensa ela, a estranha visionária?
Em que está ela absorta?
Pensa, talvez, que é uma esperança morta,
Que há-de florir, ainda das espumas
Ou ressurgir além, das próprias brumas…
Ela ali está, abstracta e solitária,
Sentada sobre a areia
E de olhos postos no além…
Mulher de carne, em gestos de sereia,
Que bem podia, transmudada em mármore,
De olhos perdidos nessa azul distância,
Ser a estátua da Ânsia,
Sem prantos e sem voz,
Que vive em todos nós!...
José Galvão Balsa
“Feitiço do Namibe”
Patalim, Patalim
PATALIM, PATALIM
Para a Nené Carracinha
e todos os Moçamedenses
O Norberto Gouveia, era um amigo especial
e, quem um dia o conheceu, não o esquecerá jamais.
Brindou-o a Natureza de dons e virtudes tais
que o elevaram e fizeram dele uma figura imortal.
Grande, muito grande em tudo que se meteu,
Honrou a camisola do Atlético, foi desportista,
brindou-nos com a graça e maestria de Artista.
Dos que o viram actuar na revista, quem se esqueceu
dele no papel de compère, junto do Mestre Campos
- que sozinho, com graça e arte podia o palco encher -,
a dar-lhe luta, e respostas brilhantes como pirilampos,
dançando, cantando e fazendo rir até mais não poder.
Foi Homem que, entre o sempre jovem povo Macongino,
como Arcebispo da Praia das Conchas, exerceu com graça
a função de benzedor – provador de barris de boa vinhaça
com prédicas e orações dignas d’um abençoado do destino.
Esta é tão só uma página das minhas Memórias
e, de entre o que me pesa meio século de ausência
da terra natal, é não poder hoje contar mais histórias
de quem que nos fazia rir sem usar da indecência.
João Manuel Mangericão (Neco)
sexta-feira, outubro 06, 2006
Aromas da Minha Terra (5)
AROMAS DA MINHA TERRA (5)
1
No desporto, o Independentezito
Famoso com Estrelas lá do sítio
Conquistaram taças Provinciais
E discutiram até títulos Nacionais
2
Mastros engalanados, fundeadas
Juntinhas, lado a lado perfiladas
Proas p’rà missa campal voltadas
Ouvindo o sermão, ali abençoadas
3
Os vigários na praia orações celebravam
Todos, entre juras e preces, rezavam
O fogo tradicional soava p`rà Senhora
E a sirene agradecia ensurdecedora
4
Amei a chuvinha na terra
Inchou o peito de sabores
Nas encostas lá da serra
Molhadas, exalando odores
Bordados tapetes de flores
5
Gota de orvalho! Deserto!
Quiçá, nutrientes pá bicharada
Pelo rosto resvalando aberto
Coração deserto, alma fechada
Pode estar liberto!
Pode estar amargurado!
Ou o sentimento apertado
6
Nas ondas do mar alto,
Ó gaivotas à volta do barco!
Abracem o aroma que o mar tem
Transportem o que é de ninguém
À gente, ontem pertinho de mim,
Que tanto quero, hoje por aí assim
14/Fevereiro/2006
Abel Marques
Explicação de Aromas 5
1º poema – A Bola na Cabeça. Fala do Clube da terra, o Independente Sport Clube, que foi várias vezes campeão de Angola e veio por duas vezes ao Continente Europeu disputar a Taça de Portugal. Uma delas com o União de Tomar e outra com o Benfica (na altura, o Eusébio ainda jogava). O jogador mais habilidoso e que fazia a diferença, de nome Estrela, inspirou-me para o conjunto. Todos eles passaram a ser “Estrelas”.
2º e 3º - Na festa da Senhora da Conceição, padroeira da terra, as traineiras e canoas encostavam as proas à praia. O estrado de madeira construído na praia, frente aos barcos, era o púlpito onde o padre rezava a missa nesse dia. Dada a mansidão das águas dentro da baía (tal como em São Martinho do Porto), os barcos podiam, sem receio, encostar a proa na areia pois nunca corriam o risco de encalharem. Ao acabar a missa campal, os barcos engalanados (tal como em algumas povoações piscatórias de Portugal) faziam soar as suas sirenes e a população estalejava foguetes.
4º - Huuummm... perfume arrebatador. Fala do cheiro (delicioso) da terra quando chove. Sensações que nos invadem o peito e o sentimento. “Bordados tapetes de flores”, diz respeito às flores silvestres da Serra, no interior, que por serem muitas eu as transformo em tapetes bordados por mãos delicadas (a Natureza).
5º. Este chorar faz verter a lagrimazita no canto do olho. Fala da nostalgia. Os animais do deserto só bebem água pela manhãzinha porque o orvalho da madrugada deixa gotas nas pontas dos pequenos arbustos existentes. As carochas sobem ao cimo das dunas levantam e viram a parte traseira do seu corpo para o mar para conseguirem captar gotas de humidade (orvalho) da manhã. Os coelhos bravios comem os rebentos dos pequenos arbustos do deserto para saciarem a sede (são os “nutrientes para a bicharada”).
6º. A minha gente morena. Fala da saudade que tenho dos amigos (alguns da tenra idade da escola primária) que nunca mais os vi. Andam simplesmente por ai.
Aromas da Minha Terra (4)
AROMAS DA MINHA TERRA (4)
1
Na planura do Pinda, verdura
As salinas, oásis de brancura
Estendia-se o manto puro tratado
Sal do mar límpido e salgado
Dos violentos raios com fartura
Para exportação uma doçura
2
O istmo da angra no pontão
Era local de natural diversão
Os baldes grandes encolhiam
Com amêijoa que os enchiam
A área, entenderam concessionada
E a irmandade ficou sem nada
3
Na ponta da “Ilha” a fauna crescia
Onde flamingos ali pastavam
Bico curvado amêijoas fartavam
Alimentados, o pernalta rosado partia
4
Iona, reserva majestosa
Com bicharada a pastar
Onde fiscal protegia por gostar
Com lei julgo muito rigorosa
E perseguição sem descansar
5
Árvores naturalmente plantadas
Lugar propício pràs patuscadas
Casbá, onde o folguedo foi bizarro
E maestro da folia o popular Pizarro
6
Na sanzala dos Quimbares
Afastados doutros habitares
O Mundo Novo batucava
Alegria que nunca faltava
Razão qualquer justificava
7
Nos “flamingos” dessa terra
Muito líquido se bebericou
O copo que a mão cerra
Nunca das voadoras se livrou
8
Habitações, portas redadas
Panorama protector habitual
Para afastar as borradas
Das moscas que viam mal
14/Fevereiro/2006
Abel Marques
Explicação de Aromas 4
1º - O Pinda, local arenoso e de arborização rasteira, era regado e adubado pelo rio Curoca. Tinha muita vegetação selvagem. Por isso era verde, coisa curiosa num deserto. No entanto, era nessa zona onde se produzia o sal para salga da pesca local e para exportação, especialmente para o interior de Angola. No meio do verde, “a brancura é um oásis”. A brancura era a salina com a sua película fina dentro dos grandes tanques rasteiros e montinhos de sal empilhados, pronto para ensaque.
2º - A Ponta da Ilha. Como era uma enseada, havia um istmo. No extremo, havia muita amêijoa. Bastava cavar um pouco para se encher baldes. Por ficar a cerca de 1,5 km do casario, íamos de barco (normalmente a remos), levávamos os fogões e lenha ou carvão para se cozinhar as quitetas (amêijoas ao natural) e aproveitávamos para fazer praia, pois as águas eram muito mansinhas do lado de dentro da enseada (tal como em São Martinho do Porto). Um dia surgiu um passarão (um esperto), sabe-se lá de onde, e resolveu pedir a concessão da parte do istmo que tinha amêijoas. Autorizado pelas autoridades, instalou um viveiro para exportação, vedando a área. A partir daí mais ninguém pôde apanhar tal iguaria.
3º - A natureza viva. No local onde apanhávamos amêijoas também os flamingos lá se deliciavam em determinada época do ano porque são aves marinhas migratórias.
4º - A natureza que ainda deve estar viva. Trata-se de uma extensa reserva de caça, situada no Sul de Angola, já muito próxima do Rio Cunene que faz fronteira com o Sudoeste Africano. Fica portanto muito afastada de Porto Alexandre. Esta região entra no meu poema porque os fanáticos da caça adoravam lá ir em carros preparados para o efeito. Também lá iam de motorizadas mas não se afastavam muitos quilómetros do povoado, caçando especialmente a cabra de leque. Os fiscais eram muito rigorosos mas como eram insuficientes, tendo em conta a dimensão da reserva, a vigilância era ineficaz.
5º - A festa dos pobres. O Casbá foi o nome atribuído pelo senhor Mário Pizarro, o mais popular habitante de Porto Alexandre, a um local paradisíaco muito interessante pelo arvoredo exposto pela mãe natureza. Esse local foi decorado e adaptado por ele, construindo bancos, mesas e adaptações para aparelhagens, para que todos os amigos e não amigos pudessem fazer os seus piqueniques e forrós nos fins-de-semana ou feriados. Era tão popular que raro era o casamento onde não estivesse presente, a convite, para animar o copo de água. Nunca lhe faltava uma palavra de consolo ou conforto aos familiares e amigos de qualquer defunto (pois o amigo Pizarro também sempre tinha sido amigo desses que partiam).
6º - Festejos dos humildes. Nos arredores do povoado havia uma sanzala de nativos, que se chamava Mundo Novo, onde habitavam os tais quimbares ou mucurocas. Embora pobres e humildes, não havia nascimento ou funeral que dispensasse a alegria do batuque, que ressoava pelo povoado, especialmente à noite.
7º e 8º - As amigas porcalhonas. Dado o mau cheiro da terra, devido ao peixe, também havia muitas moscas. O 7º poema é uma figura de estilo (da literatura portuguesa) porque havia um Bar muito famoso chamado “Flamingo”. Por esta razão, considero no poema, que todas as casas de pasto existentes passam a chamar-se “os flamingos”. Para se beber qualquer líquido tinha que se tapar o copo com a mão para evitar as moscas e a sopa tinha que ser comida o mais rapidamente possível. O 8º poema diz que em qualquer habitação era imprescindível a rede de pesca nas portas e janelas para permitir o refrescamento do interior afastando, em simultâneo, as moscas e mesmo assim eram imparáveis.
Aromas da Minha Terra (3)
AROMAS DA MINHA TERRA (3)
1
Depois a ambição das Nações
Deu asas às colonizações
Desenvolveram estratégia Imperial
Jumbo branco ficou, pobre Portugal
2
Quer no Pinda quer na praia da baía
Antes do “camone” construir feitoria
Barretos das Ilhas foram primeiros
Sem lá estarem Algarvios ou Poveiros
Não sei porque raio de razão
Era do Alex o nome da Povoação
3
Madeirenses e Poveiros meus pais
Pescadores dessa terra como tantos
Agora são recordações banais
De vidas doridas, em poesia, encantos
4
Pelo sustento de todos, lutaram
No arrasto, cerco e linha labutaram
Trabalhadores humildes consumidos
Guerreiros de tormentas, enrijecidos
5
Botes enfrentaram o mar, valentes!
Charruando, mágicas redes consistentes
Navegando, velas e motores potentes
A faina foi fruto dessa gente morena
Tripulantes de alma danada, serena
6
Prós pesqueiros a frota se dirigia
Três Irmãos e Chapéu Armado.
Por vezes até o Santo estremecia
Na Ponta Albina, outro afamado
7
Canoa, vela triangular bolinando
Com sacada, sua arte pescando
Lá moravam antes da traina chegar
Na arqueologia teimosamente a brilhar
8
Traineiras, Bota-a-baixo, berrantes
Protectora Senhora dos Navegantes
Vogando, motores a ronronar
Sulcando o azul tapete, indo ao mar
Lá iam, voltavam carregadas
Cheias de sonhos, abençoadas
9
Ziguezagueando, barrigas a brilhar,
Miragens de lantejoulas ao luar
O mar ardia à vista ao borbulhar
Ao largo ou na costa a fainar
O arrais vibrava! Bota-ao-mar!
10
Redes extensas e compridas
No uso da traina partidas
Artes por todos concertadas
Hoje são industrializadas
11
Na enseada navios fundeados
Vindos quiçá de que país imundo
Guano nos porões atulhados
Rica mortandade ia pró mundo
12
Na Pesca do Império reza a história
Foi porto primeiro, não há memória
Sardinha e charro gordo fedorento
Afamou a terra de cheiro pestilento
13
A escala secava no estendal
Quadro que parecia um carnaval
Ficou na memória a tarimba
Tela que não vi mais ainda
14/Fevereiro/2006
Abel Marques
Explicação de Aromas 3
1º poema - “Jumbo Branco” (Elefante Branco), tal como depreciativamente chamamos aos empreendimentos megalómanos portugueses, continuamos na pobreza, embora as colónias nos tivessem proporcionado um manancial de riqueza.
2º e 3º - As velhas senhoras. Meu bisavô materno, João de Sousa Barreto, natural da Ilha da Madeira, recebeu um quinhão de terra na zona do Pinda, oferecido pelas autoridades portuguesas. Do casamento de meu bisavô nasceram seis filhos, dos quais, um deles é meu avô, todos nascidos no Pinda. Entretanto, deixaram esta povoação e deslocaram-se cerca de seis quilómetros para Sul, devido à riqueza piscatória (Angra das Aldeias, mais tarde Porto Alexandre), desabitada. Quando o explorador Sir James Alexander por lá passou, em 1835, já havia portugueses e em 1860 surgem os colonos de Olhão pela primeira vez. A colónia da Póvoa de Varzim chega a Porto Alexandre em 1921. Podemos dizer que os primeiros foram os madeirenses e não os algarvios como alguma documentação faz crer. E mesmo que tivessem sido os algarvios os primeiros, não encontro justificação para o local obter um nome estrangeiro (Sir Alexander).
6º. Locais da matança. Esta quadra identifica os mais importantes bancos de pesca: Três Irmãos, Chapéu Armado, Ponta Albina e Saco da Baleia (este não introduzido por insonora cadência e rima). Eram também locais muito perigosos quando o vento era garroa.
7º. As artes. Sacada é uma arte de pesca com canoas (embarcações tipo canoas do Tejo), primeiras no local, à vela, muito antes de surgir a traina (ou traineira). Para a arqueologia, estas peças são muito importantes. Basta visitar o Museu de Marinha.
8º - O trinar festivo. No nascimento/baptismo das traineiras, uma festa tradicional se impõe. O bote é benzido pelo pároco e a garrafa de champanhe é quebrada na sua proa. Em simultâneo, o barco escorrega por um carril, previamente preparado, para dentro da água. É a “Festa do Bota-a-Baixo”. Quando o barco não desliza imediatamente por qualquer razão, é presságio pela certa. Entretanto, as outras embarcações e traineiras berram com as suas buzinas e foguetes. É como se fosse o nascimento de um filho. Os donos e convidados vão comer e beber no baptismo do barco, tal como nos nossos baptismos.
9º - O canto da fartura. Esta quintilha descreve os grandes cardumes ao luar. Quando o peixe é muito, dentro da água, os arrais preparam-se para mandar largar as redes. O peixe, pressentindo o perigo pelo ruído dos motores, junta-se revolvendo-se (virando a barriga pela quantidade, confuso) e corre em ziguezague. Vêm-se as bolhas de espuma à sua passagem parecendo água a arder, parece que a água do mar tem fogo, porque está luar. “Miragens” (imagens no deserto devido ao ar excessivamente quente) são visões irreais. A espuma é uma mancha grande e brilhante que passa no poema a ser miríades de “lantejoulas”. Perante o cardume, o arrais ordena “Bota ao Mar”, traduzindo a ordem para o mestre das argolas (mestre da popa do barco) lançar a rede ao mar (lanço). Um só lanço podia eventualmente carregar um barco de 40 ou 50 toneladas. Comparativamente, na costa portuguesa, um lanço, considerado muito bom, pode encher 10 ou 12 caixas que cabem num convés, representando cerca de 1500 kg. Por este exemplo podem imaginar a dimensão do facto.
10º - Esta quadra é uma crítica à indústria. Antigamente quando as redes se rompiam, toda a gente (conversando) tratava delas. Coziam-nas tradicional e culturalmente. Hoje, são comparativamente baratas pelo que, é usar e deitar fora. Por vezes não compensa consertá-las.
11º - Fartura/desperdício. Trata-se de uma crítica à insensibilidade para os problemas ecológicos. Matava-se toneladas de peixe pura e simplesmente para adubar as terras. Sabemos quanto hoje isto faz falta a toda a humanidade. Hoje os pescadores são pagos para pararem, isto é, para não destruírem completamente os pesqueiros, já consideravelmente depauperados. Surgiam na enseada navios (estrangeiros e portugueses) que eram carregados com farinha de peixe (guano), exportação da mortandade para o mundo. Pagava-se pela mortandade valores extremamente baixos, cuja divisa estrangeira entrava nos cofres de Império. Aos armadores chegava dinheiro sem qualquer valor (Angolares).
12º - As honras do Império. Na história da pesca, foi considerado o primeiro porto em números. Tonelagem capturada, número de barcos, arqueação bruta e pescadores. Quanto mais peixe capturado, mais mal cheirava a terra e bom era o ano económico. Por isso, era conhecida pela terra do mau cheiro, pelo peixe apodrecido, porque as cabeças e tripas da escala eram deitadas ao mar, voltando à praia e apodrecendo a céu aberto.
13º - O estendal. O peixe escalado e salgado (como o bacalhau) era secado em tarimbas (estaleiro em ripas de madeira ou bordão – espécie de bambu). Era um espectáculo tal grande estrutura fazendo lembrar o estendal da roupa a secar. O peixe depois de seco era exportado para o interior de Angola ou para o ex-Congo Belga e ex-Francês especialmente, mesmo nos anos em que Portugal não tinha relações com estes jovens países independentes.
Aromas da Minha Terra (2)
AROMAS DA MINHA TERRA (2)
1
Recanto bafejado pela corrente
Submarina de Benguela transparente
Fria, carrega nutriente riqueza
Alimentando a fauna de certeza
Perfuma de maresia a redondeza
2
À zona chegavam golfinhos e roazes
Mergulhavam patolas e alcatrazes
Voavam pelicanos, gaivotas e garajaus
Nadavam pinguins focas e outros animais
Atacando gordas sardinhas e carapaus
Festins naturais que verei jamais
3
Chuva! O Curoca escorria da Chela
Galgava solto atravessava a planura
Arrastava putrefactos da terra
Tubarões devoravam na embocadura
4
Submergia o tapete da via
Banhava margens que enriquecia
Desaparecia como por magia
Alentava o produto que florescia
5
Mais p’ra longe lá p’ra Norte
Junto à escarpada Rochinha
O mar criava exemplares de morte
Para as patuscadas na terrinha
6
Escondia a saborosa qualidade
Crescia morena a garoupinha
Que dava força à irmandade
Na hora da grande panelinha
7
Rica etnografia pouco estudada
Vou tentar em linhas contar
Coisas gentílicas da morada
Por sentir perto aquele lugar
8
No mar andavam Quimbares
Pobres de riqueza e de angolares
Origem nos Mucurocas a ligação
Assentando toda a sua tradição
9
Povo Cuanhama, vaidoso
De aroma intenso, cheiroso
Trajando semelhante a vermelho
No andarilho punha rádio e espelho
10
Cavalgava em decorada bicicleta
Sua sociedade é matriarcal aberta
Vindos do Cunene e suas margens
Atléticos pastores dessas paragens
11
Os Cuvales, altos espadaúdos Mucubais
Turbantes e elegantes peles de animais
Caçadores astutos pastoreio é paixão
Promiscuidade étnica, certeza de confusão
12
Mucancala no deserto escaldando
Norteado, palmilhava confinado
Azagaia no magro dorso carregando
Flechando certeiro, bicho coitado!
13
Baixos morenos despreocupados
Olhar atento, achinesados
Tubérculo por Deus plantado
Líquido precioso desenterrado
14
Não paga impostos nem se rala
Comunica, dá sonsinhos na fala
Rica cultura e historiografia
Recolectores, pasmam Sociologia
14/Fevereiro/2006
Abel Marques
Explicação de Aromas 2
1º e 2º poemas - A Corrente Submarina. Do Pólo Sul provém uma corrente submarina com sentido Sul/Norte, que banha a costa marítima Africana. Esta corrente descreve um semi-arco para a esquerda até à Zona da Guiné, flectindo em direcção a Oeste, onde surge uma corrente quente que vai banhar a costa Leste do continente Sul-americano (sentido Norte/Sul). A Corrente Fria de Benguela, na sua longa caminhada, tem um ponto de tangencia com o continente africano que é precisamente a costa do deserto do Namibe (ou Namíbia). Não entendo a razão pela qual tal fenómeno tem o nome de Benguela, que dista deste ponto mais de 1000 quilómetros para Norte. Sabemos que o Pólo Sul é muito rico em “Cril” (pequenos crustáceos que servem de alimento às baleias e não só) e outros microorganismos. Essa corrente (fria), na sua caminhada, carrega microorganismos, razão pela qual as suas águas são muito ricas em peixe, aparecendo também por lá muita bicharada (focas, pinguins, golfinhos, roazes e outros animais). Porto Alexandre tem por isso um clima muito temperado no verão e no tempo frio. O texto diz respeito apenas a Porto Alexandre e nada tem a ver com cidade de Benguela. Garajau (ave migratória) é a ave marinha cujo nome a Europa conhece como andorinha-do-mar e é também o nome usado na América Latina.
3º e 4º - O Rio Curoca. Trata-se de um rio efémero que só existe quando chove. De rio, existe apenas o rasto da sua passagem nítida no terreno. Fica completamente seco durante grande parte do ano (“desaparece como que por magia”), excepto nos meses de Março, Abril e Maio quando chove no planalto da Huila. A chuva escorre pela serra (com mais de 1000 metros de altura) abaixo, forma grande caudal, atravessando uma planície extensa antes de chegar ao deserto do Namibe. Ao atravessar a planície, arrasta animais e outros objectos para a foz, já apodrecidos, na zona chamada Pinda. Os corpos apodrecidos são alimento para tubarões que predominam nessa zona. Aí (Pinda), existe uma faixa rodoviária (em alcatrão) que liga Moçâmedes (Namibe) a Porto Alexandre (Tômbua) que o caudal do rio a galga, fazendo desaparecer o tapete negro durante semanas. A passagem ficava intransitável. As soluções adoptadas pela engenharia nunca resultaram porque o rio é muito inconstante. Tanto desagua num determinado sítio como no ano seguinte pode desaguar 5 quilómetros mais para lá ou para cá, não fazendo sentido qualquer ponte por ser de orçamento muito elevado. É mais económico o transporte de barco. Mas nem isso é utilizado porque é preferível aguardar (alguns dias) que as águas baixem.
5º e 6º - A fauna na panela. Para norte, a cerca de 30 quilómetros de Porto Alexandre, existe uma área rochosa, muito elevada, a pique sobre o mar (idêntica ao da ponta de Sagres mas mais escarpada e elevada) onde se pescava a garoupa (castanha e a murianga), cherne, mero e outros peixes da pedra. Em frente a esse rochedo, com quilómetros de extensão, o mar está pejado de pedregulhos que a natureza espalhou, habitat das garoupas (pesqueiro). E esse peixe da pedra não desapareceu porque as traineiras partem lá as redes de certeza, caso as lancem. Esse peixe só pode ser pescado à linha o que faz preservar o fundo desse pesqueiro. A distância era grande, envolvia tempo e apetrechos o que fazia da garoupa o peixe mais procurado e desejado para as patuscadas. O carapau e a sardinha, embora muito apreciados, não eram os peixes mais desejados porque estes obtinha-mos com muita facilidade e gratuitamente. Por isso, o peixe com preço mais elevado (5$00/kg, nos anos 60) era a garoupa.
7º ao 14º - A Etnografia. Na região existem três etnias. Os Mucurocas, os Mucubais e os Mucancalas. O povo que habita as margens do rio Curoca é Mucuroca e foi ele que esteve sempre muito próximo dos primeiros colonos. Estes chamaram-lhes Quimbares e são eles que actualmente habitam e são os pescadores de Tômbua. Os Quanhamas, habitantes da fronteira com o Sudoeste Africano, chegavam a Porto Alexandre para trabalharem na indústria da pesca. São pastores de gado bovino e caprino (cavalar?). A sua sociedade é matriarcal. Todos os bens pertencem às mulheres. Este povo tem particularidades muito interessantes: Tem uma estatura idêntica à nossa, 1,6 m aproximadamente, moderado no comer e no beber, limpeza absoluta no corpo e no traje. Aprecia as cores garridas na roupa e na bicicleta. Usa perfume que normalmente é enjoativo ao nosso olfacto. O orgulho na bicicleta é primorosamente incomparável. Extremamente decorada, equipada com farolim e stop, retrovisor, campainha, buzina de fole, bandeirinhas e rádio. Quando termina o contracto da pesca é vê-los com a bicicleta em cima do machimbombo (autocarro) em direcção à sua terra natal. Os Mucubais são fortes e espadaúdos, altos e untam-se frequentemente com terra vermelha para se protegerem do sol. Apareciam por lá para se abastecerem ou por questões de saúde mas nunca se dedicaram à pesca. São de terras afastadas, vivem do pastoreio e da caça. Usam turbantes e peles de animais que lhes envolve o corpo. Os Mucubais ou também conhecidos por Cuvales têm a sua origem nos Hereros (muitas semelhanças com os Massai) que predominam a região meridional de África. Não admitem cruzamentos de raças pelo que punem severamente qualquer violação matrimonial. Os Mucancalas são conhecidos no mundo inteiro pelos Bochímanes ou Kalahari San. São um povo ainda recolector vivendo em plena liberdade. Aparecem por lá esporadicamente, um, dois ou três elementos, sempre em trânsito. São caçadores astutos nunca se perdem no deserto, palmilham que se fartam, carregam a azagaia (com veneno) e pouco mais. Para sobreviver no deserto para eles não há segredo. São amulatados e de olhos (rasgados) achinesados. Para beberem no deserto desenterram tubérculos que eles bem conhecem. A cada conjunto de palavras emitem um estalinho com a língua. Embora apareçam no mercado cinematográfico algumas fitas a tentar retratá-los, existe apenas um “Os deuses devem estar loucos” que é fiel quanto ao indivíduo que apresentam como actor. Crê-se que (há milhões de anos) vieram do oriente (China provavelmente), entraram em África e ocuparam toda a faixa meridional. Entretanto os negros expandiram-se e empurraram-nos para os dois desertos que se encontram a sul de África (Deserto do Kalahari e o do Namibe). Os negros descansaram pensando que no deserto os bochímanes não sobreviveriam. Puro engano, ainda hoje parte deles lá sobrevive e, curiosamente, os negros continuam a detestá-los de morte. As autoridades portuguesas tiveram alguns problemas de justiça por não conseguirem lidar com esses problema.
Aromas da Minha Terra (1)
AROMAS DA MINHA TERRA (1)
1
Namibe, deserto onde nasci
Sol e maresia abundam por ali
Espectacular oásis onde brinquei
Sintam o lugar lindo que adorei
2
Na Natureza dessas paragens
Vemos dunas e miragens
O chão ondulado no calor
Expira ar queimado do ardor
3
Grãos amontoados de areia lisa
Moldados pelo vento e pela brisa
Infinita imagem de áridas ternuras
Inferno que amamos sem verduras
4
No casario junto à praia
Onde cresci e sonhei
Muito que de mim saia
Dos pescadores herdei
5
Tenro, nu nadei na enseada, grande
De nome, era mas já não é Alexandre.
Tombua, nome novo. Esquisito!
Agora já soa, para mim, bonito.
À terra o homem quis e ligou
O que Deus há muito semeou
6
Welwitschia é seu nome
Mirabilis seu sobrenome
Tombua foi nome primitivo
O da Europa é o conhecido
7
No Namibe foi onde Ele quis
No deserto a planta é feliz
O botânico a beldade estudou
Ao mundo a raridade divulgou
8
Terra e Planta, Planta e Terra
No Namibe, perfeita combinação
Abençoada Natureza encerra
Os meus sonhos e paixão
9
Casuarina, taipando aquele Local
Pinheiro bravo, importante Vegetal
Serenou as areias do ventão
E todos viveram na povoação
10
Ao Norte, na saliente pontinha
Onde o Diogo nos pôs na Historinha
Pela escuridão Cabo Negro baptizou
Logo com Padrão o sítio marcou
11
Naturalmente defronte em homenagem
O Navegador teve a sua imagem
Donde peixe e mexilhão foi apanhado
No Museu está o pedrão apresentado
14/Fevereiro/2006
Abel Marques
Abel Marques
Explicação de Aromas 1
A 2ª quadra - Onde nasci. Trata-se de uma povoação plantada ao longo da praia de uma enseada (ou angra), localizada no lado contrário ao do istmo (ou língua de areia). A enseada tem a forma bem pronunciada de ferradura, cujo istmo chamávamos ilha (que de ilha nada tinha). Actualmente é mesmo ilha porque o mar entretanto engoliu a areia na parte que ligava a língua ao continente africano. Dentro da enseada, creio que cabe toda a actual esquadra americana. É de facto enorme. O misto de casario e estrutura de pesca (pontes em cimento ou em madeira) estavam compactamente perfilados ao longo da praia, numa extensão aproximada de 5 quilómetros. Desde a primeira casa à última pescaria (estrutura de pesca) só havia uma única rua asfaltada ao longo da praia (longitudinal). Se nos virarmos para Norte temos ao centro a estrada asfaltada, do lado esquerdo as pescarias (viradas para o mar) e do nosso lado direito (Leste) encontramos o casario, também voltado para o mar. Um arvoredo denso de Casuarinas taipava a urbe, retendo as areias trazidas pelos ventos. Ou seja, dum lado da estrada estavam as pescarias e do outro, em fila, as casas, normalmente pintadas de branco, talvez influência dos algarvios, embora as casas fossem diferentes das do Algarve. Toda a gente conhecia toda a gente (cerca de 5 mil habitantes entre negros e brancos – mucurocas, quanhamas, madeirenses, algarvios e poveiros.
Do 3º ao 8º poemas - O nome da terra. Os navegadores começaram por lhe chamar Angra das Aldeias (desabitada). A colonização nessa área tem início por volta de 1800. Por alturas de 1835, o explorador inglês, Sir James Alexander, visitou essas terras (já lá havia colonos) e com as graças do Governo Português, as cartas inglesas passaram a constar de Porto Alexandre. Os portugueses, não se sabe bem porquê, cómoda e erradamente aceitaram tal topónimo. Existe uma planta no deserto, a poucos quilómetros de Porto Alexandre, que é única no mundo e com características muito especiais. Os nativos da região deram-lhe o nome de Tômbua, portanto milenar. Em finais de 1859 lá chegou um Sir, botânico inglês de nome Frederico Welwitsch, que se entusiasmou com a raridade. Estudou-a e a divulgou ao mundo. Deu-lhe o nome de Welwitschia mirabilis (Welwitschia pelo seu nome e Mirabilis devido às miragens do deserto provocadas pelo libertação das vagas de calor emanadas do chão). Proclamada a independência de Angola, em 1975, o nome de Porto Alexandre (colonial) foi substituído por Tômbua (nacional), em homenagem ao nome da planta milenar.
9º poema - Esta quadra dá verdura ao ambiente com a Casuarina. A zona é fustigada por ventos, por vezes fortes, com direcção do deserto para o mar, carrega toneladas de areia tapando tudo à sua passagem. Impossível viver-se naquele local riquíssimo em peixe. As autoridades experimentaram tábuas e árvores para travar as areias do deserto trazidas pelo vento. A única espécie eficaz foi a Casuarina (tipo de pinheiro bravo ligeiramente diferente do existente em Portugal). A partir daí foi possível fazer nascer aquela povoação.
10º e 11º - Estas quadras revivem a história da nossa gente. O navegador português Diogo Cão ao descobrir Angola colocou um padrão (marco) no Norte (Zaire) e outro no Sul (a 10 km a Norte de Porto Alexandre aproximadamente). O do Sul foi colocado no extremo de um cabo marítimo a que chamou Cabo Negro por ser muito escuro, visto de longe. Curiosamente, em frete, dentro da água, está uma pedra muito grande que faz lembrar a cabeça de uma pessoa. Por isso se diz que é a cabeça desse ilustre navegador português. O padrão original encontra-se na entrada do Museu de Marinha em Lisboa pelo que, o existente no local (se não foi retirado após a independência) é uma réplica. Na base da rocha desse Cabo e nas pedras circundantes existe muito mexilhão grandão (com sabor a maresia) que lá íamos apanhar.
quarta-feira, setembro 06, 2006
Lamento de Menino Grande
LAMENTO DE MENINO GRANDE
Sim, eu choro…
… choro por estar longe da minha Angola querida,
distante do meu saudoso chão.
… choro porque já não vejo o voar do “rabo-de-jun-
co”, nem a garotada jogar à bola no terreno do
subúrbio.
… choro porque já não vejo o azulinho do “papo-ce-
leste”, o vermelhão de uma queimada surgida ao
longe, nem o sol a esconder-se por de trás do Pon-
ta-do-Pau-do-Sul.
… choro porque já não vejo a imensidão das praias
do Chiloango e do Arimo, nem a grandeza do meu de-
serto de Moçamedes.
… choro porque não descubro o fim de uma picada,
nem saboreio o pirão, o musonguê, a manga e a bu-
lunga.
… choro porque já não vejo o sorriso aberto do ne-
grinho humilde, nem sinto a amizade do mulato pim-
pão.
… choro porque já não vejo a elegância da gazela, a
curiosidade da “suricata”, nem a secura da lendária
Welwitschia mirabilis.
… choro porque já não vejo a beleza das garotas
praieiras, nem leio os poemas que elas inspiraram.
… choro porque já não vejo uma rebita bem puxada,
nem oiço o barulho de um batuque, nem gozo o calor
de uma fogueira numa anhara.
… choro porque já não passeio na marginal da minha
baía, nem percorro o caminho das palmeiras até às
furnas.
… choro porque já não vejo o Castelinho de S. Fernando,
nem sinto o silêncio de uma madrugada quente, nem
oiço as histórias do velho boiadeiro da lagoa.
… choro porque já não vejo o túmulo dos meus antepas-
sados e tudo que eles criaram.
… choro porque só vejo o luto em Angola, a traição
e o lamento.
Sim, eu choro…
… choro de saudade!
Fernando Moraes
domingo, setembro 03, 2006
Mensagem a Moçamedes
Mensagem a Moçamedes,
Eternamente Nossa Mãe
Não é em vão que hoje te homenageamos,
Recordando o teu sorriso de princesa
E bebendo as amargas lágrimas que chorámos
Nestes anos todos de inexcedível tristeza.
Há muito deixámos teu regaço,
Mas em nossos corações ainda alimentamos
A saudade da partida e o abraço
Que em momento de transe trocámos.
Desde então quanta amargura
Dentro de ti vem obstruindo
Os sonhos e esperanças que, com fartura,
Nós semeámos no teu deserto infindo.
De cada Welwitschia” faríamos um vigilante
Do Namibe solarento,
Que as “miragens” espreitam a todo o instante
Para te livrar de tanto sofrimento.
Não é uma miragem este sentimento
Arreigado em nós obstinadamente,
Fazendo uma bandeira do nosso lamento
Nas lutas que travamos pacientemente.
E aqui estamos como soldados,
Em Caldas da Rainha, p’ra te saudar,
Plenos de alegria mas com saudades
Para teu nome gritar:
Moçamedes! Continuas princesa!
Velhinha, mas com nobreza!
Mário António Gomes Guedes da Silva
4.Agosto.2001
4.Agosto.2001
sábado, setembro 02, 2006
Aos Quatro Pioneiros
AOS QUATRO PIONEIROS
É um especial Agosto
O sol brilha além
O céu está azul, desmedidamente
Pintado de laivos dourados,
Cheiros conhecidos, inolvidáveis exalam
Enquanto os ramos das casuarinas se abraçam.
No oceano da minha imaginação chega um veleiro original
Que quatro timoneiros comandam
As velas desfraldam
Dum naufrágio que vingaram.
Estão de lágrimas molhadas
A proa mostra o pó de cinzas de amargura
Na magia de sonhos
Tantos sonhos ao céu voando.
Feridas sangram
Os lados do veleiro tingindo
De doridas recordações
Emoções, muitas emoções
De vidas da vida que foi vida.
Olhem…
Recordem
Com olhar penetrante os rostos com pálida alegria
Vendo que a sua obra permanece
Que ninguém a esquece
Do Norberto “Patalim” a impar generosidade
De Mário Leitão a vontade
Do Carlos Alves a solidariedade
Do Zeca Baulete a bondade.
Vocês são as imagens
De ânsias de mais céu
Fome de mais mar
Do nada quiseram renascer
Golpeando a cruel distância física traçada
Numa dolorosa saudade
Todos unidos aqui estamos
A vossa obra prosseguindo
O livro da vida folheando
Pois é somente pela vida
Que ainda é possível escrever.
Longe não estão
Sempre perco ficarão
Norberto, Carlos, Mário, Baulete
Nunca serão miragens
Mas retratadas imagens
Que um dia, na curva para outra vida
Vos iremos encontrar
Abraçar
Além
Naquele misterioso além
A vossa obra ao ar atirada
Foi semente que na terra caindo
No mar fluindo
Até ao céu chegar
Formam as cores do arco-íris
Que a vossa persistência criou
Ao alto chegar
E finalmente vingou
Por tudo o que vos devemos
Deste arvoredo nas ramagens
O nosso muito obrigado
Entoará a mais bela melodia
Desta obra feita de amor e magia.
Maria Teresa da Ressurreição
poema declamado durante a homenagem prestada aos fundadores da ADIMO,
nas Caldas da Rainha aos 7 de Agosto de 2005
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