AROMAS DA MINHA TERRA (5)
1
No desporto, o Independentezito
Famoso com Estrelas lá do sítio
Conquistaram taças Provinciais
E discutiram até títulos Nacionais
2
Mastros engalanados, fundeadas
Juntinhas, lado a lado perfiladas
Proas p’rà missa campal voltadas
Ouvindo o sermão, ali abençoadas
3
Os vigários na praia orações celebravam
Todos, entre juras e preces, rezavam
O fogo tradicional soava p`rà Senhora
E a sirene agradecia ensurdecedora
4
Amei a chuvinha na terra
Inchou o peito de sabores
Nas encostas lá da serra
Molhadas, exalando odores
Bordados tapetes de flores
5
Gota de orvalho! Deserto!
Quiçá, nutrientes pá bicharada
Pelo rosto resvalando aberto
Coração deserto, alma fechada
Pode estar liberto!
Pode estar amargurado!
Ou o sentimento apertado
6
Nas ondas do mar alto,
Ó gaivotas à volta do barco!
Abracem o aroma que o mar tem
Transportem o que é de ninguém
À gente, ontem pertinho de mim,
Que tanto quero, hoje por aí assim
14/Fevereiro/2006
Abel Marques
Explicação de Aromas 5
1º poema – A Bola na Cabeça. Fala do Clube da terra, o Independente Sport Clube, que foi várias vezes campeão de Angola e veio por duas vezes ao Continente Europeu disputar a Taça de Portugal. Uma delas com o União de Tomar e outra com o Benfica (na altura, o Eusébio ainda jogava). O jogador mais habilidoso e que fazia a diferença, de nome Estrela, inspirou-me para o conjunto. Todos eles passaram a ser “Estrelas”.
2º e 3º - Na festa da Senhora da Conceição, padroeira da terra, as traineiras e canoas encostavam as proas à praia. O estrado de madeira construído na praia, frente aos barcos, era o púlpito onde o padre rezava a missa nesse dia. Dada a mansidão das águas dentro da baía (tal como em São Martinho do Porto), os barcos podiam, sem receio, encostar a proa na areia pois nunca corriam o risco de encalharem. Ao acabar a missa campal, os barcos engalanados (tal como em algumas povoações piscatórias de Portugal) faziam soar as suas sirenes e a população estalejava foguetes.
4º - Huuummm... perfume arrebatador. Fala do cheiro (delicioso) da terra quando chove. Sensações que nos invadem o peito e o sentimento. “Bordados tapetes de flores”, diz respeito às flores silvestres da Serra, no interior, que por serem muitas eu as transformo em tapetes bordados por mãos delicadas (a Natureza).
5º. Este chorar faz verter a lagrimazita no canto do olho. Fala da nostalgia. Os animais do deserto só bebem água pela manhãzinha porque o orvalho da madrugada deixa gotas nas pontas dos pequenos arbustos existentes. As carochas sobem ao cimo das dunas levantam e viram a parte traseira do seu corpo para o mar para conseguirem captar gotas de humidade (orvalho) da manhã. Os coelhos bravios comem os rebentos dos pequenos arbustos do deserto para saciarem a sede (são os “nutrientes para a bicharada”).
6º. A minha gente morena. Fala da saudade que tenho dos amigos (alguns da tenra idade da escola primária) que nunca mais os vi. Andam simplesmente por ai.
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