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sexta-feira, outubro 06, 2006

Aromas da Minha Terra (4)



AROMAS DA MINHA TERRA (4)



1
Na planura do Pinda, verdura
As salinas, oásis de brancura
Estendia-se o manto puro tratado
Sal do mar límpido e salgado
Dos violentos raios com fartura
Para exportação uma doçura

2
O istmo da angra no pontão
Era local de natural diversão
Os baldes grandes encolhiam
Com amêijoa que os enchiam
A área, entenderam concessionada
E a irmandade ficou sem nada

3
Na ponta da “Ilha” a fauna crescia
Onde flamingos ali pastavam
Bico curvado amêijoas fartavam
Alimentados, o pernalta rosado partia

4
Iona, reserva majestosa
Com bicharada a pastar
Onde fiscal protegia por gostar
Com lei julgo muito rigorosa
E perseguição sem descansar

5
Árvores naturalmente plantadas
Lugar propício pràs patuscadas
Casbá, onde o folguedo foi bizarro
E maestro da folia o popular Pizarro

6
Na sanzala dos Quimbares
Afastados doutros habitares
O Mundo Novo batucava
Alegria que nunca faltava
Razão qualquer justificava

7
Nos “flamingos” dessa terra
Muito líquido se bebericou
O copo que a mão cerra
Nunca das voadoras se livrou

8
Habitações, portas redadas
Panorama protector habitual
Para afastar as borradas
Das moscas que viam mal


14/Fevereiro/2006
Abel Marques



Explicação de Aromas 4

- O Pinda, local arenoso e de arborização rasteira, era regado e adubado pelo rio Curoca. Tinha muita vegetação selvagem. Por isso era verde, coisa curiosa num deserto. No entanto, era nessa zona onde se produzia o sal para salga da pesca local e para exportação, especialmente para o interior de Angola. No meio do verde, “a brancura é um oásis”. A brancura era a salina com a sua película fina dentro dos grandes tanques rasteiros e montinhos de sal empilhados, pronto para ensaque.

- A Ponta da Ilha. Como era uma enseada, havia um istmo. No extremo, havia muita amêijoa. Bastava cavar um pouco para se encher baldes. Por ficar a cerca de 1,5 km do casario, íamos de barco (normalmente a remos), levávamos os fogões e lenha ou carvão para se cozinhar as quitetas (amêijoas ao natural) e aproveitávamos para fazer praia, pois as águas eram muito mansinhas do lado de dentro da enseada (tal como em São Martinho do Porto). Um dia surgiu um passarão (um esperto), sabe-se lá de onde, e resolveu pedir a concessão da parte do istmo que tinha amêijoas. Autorizado pelas autoridades, instalou um viveiro para exportação, vedando a área. A partir daí mais ninguém pôde apanhar tal iguaria.

- A natureza viva. No local onde apanhávamos amêijoas também os flamingos lá se deliciavam em determinada época do ano porque são aves marinhas migratórias.

- A natureza que ainda deve estar viva. Trata-se de uma extensa reserva de caça, situada no Sul de Angola, já muito próxima do Rio Cunene que faz fronteira com o Sudoeste Africano. Fica portanto muito afastada de Porto Alexandre. Esta região entra no meu poema porque os fanáticos da caça adoravam lá ir em carros preparados para o efeito. Também lá iam de motorizadas mas não se afastavam muitos quilómetros do povoado, caçando especialmente a cabra de leque. Os fiscais eram muito rigorosos mas como eram insuficientes, tendo em conta a dimensão da reserva, a vigilância era ineficaz.

- A festa dos pobres. O Casbá foi o nome atribuído pelo senhor Mário Pizarro, o mais popular habitante de Porto Alexandre, a um local paradisíaco muito interessante pelo arvoredo exposto pela mãe natureza. Esse local foi decorado e adaptado por ele, construindo bancos, mesas e adaptações para aparelhagens, para que todos os amigos e não amigos pudessem fazer os seus piqueniques e forrós nos fins-de-semana ou feriados. Era tão popular que raro era o casamento onde não estivesse presente, a convite, para animar o copo de água. Nunca lhe faltava uma palavra de consolo ou conforto aos familiares e amigos de qualquer defunto (pois o amigo Pizarro também sempre tinha sido amigo desses que partiam).

- Festejos dos humildes. Nos arredores do povoado havia uma sanzala de nativos, que se chamava Mundo Novo, onde habitavam os tais quimbares ou mucurocas. Embora pobres e humildes, não havia nascimento ou funeral que dispensasse a alegria do batuque, que ressoava pelo povoado, especialmente à noite.

7º e 8º - As amigas porcalhonas. Dado o mau cheiro da terra, devido ao peixe, também havia muitas moscas. O 7º poema é uma figura de estilo (da literatura portuguesa) porque havia um Bar muito famoso chamado “Flamingo”. Por esta razão, considero no poema, que todas as casas de pasto existentes passam a chamar-se “os flamingos”. Para se beber qualquer líquido tinha que se tapar o copo com a mão para evitar as moscas e a sopa tinha que ser comida o mais rapidamente possível. O 8º poema diz que em qualquer habitação era imprescindível a rede de pesca nas portas e janelas para permitir o refrescamento do interior afastando, em simultâneo, as moscas e mesmo assim eram imparáveis.

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